Viver é relacionar-se. Viver é relacionar-se com a vida. Viver é relacionar-se a Vida com Vida. Ser vida é ser consciente da forma como nos relacionamos connosco próprios na dinâmica da relação com o outro. Viver um relacionamento é relacionar o que está dentro com o que está fora. Relacionar é a arte de aprender a ser vida com outra vida.
Relacionamo-nos com tanta coisa e tantas pessoas à volta, que negligenciamos a forma como nos relacionamos connosco próprios no vasto oceano de efeito espelho que a vida é. Relacionamos o nosso “mundo” com outros “mundos”. O descobridor relaciona o seu mundo com mundos de outros descobridores.
Relacionamo-nos com a cara-metade, com o pai, com a mãe, com o filho, com a filha, com a família, com o amigo e com a amiga, com o colega, com o padeiro, com a peixeira, com o polícia, com o ladrão, com o mendigo, com o banqueiro, com a política, com a religião, com o futebol, com a televisão, com o jornal, com o que está “bem”, com o que “está mal”, com o preconceito, com o tabu, com o politicamente correto e incorreto, com o socialmente aceite e não aceite, com o desconhecido, com o conhecido, com o espelho, com o relógio… relacionamos emoções de medo com pensamentos de luta, relacionamos pensamentos de dor com ações de raiva, relacionamos gestos de compaixão com gestos de amor, relacionamos reações com respostas, relacionamos dar com receber, relacionamos dependências com independências e interdependências, relacionamos pensamentos com ações, relacionamos a nossa forma de viver o mundo com outras formas de viver o mundo… Relaciona-se o futuro com o passado, a procura com a emoção, a paixão com a inércia, o prazer com a culpa, o engano com o desengano, a verdade com a mentira, a ilusão com a desilusão.
…Será que relacionamos? Como relacionamos? Será que “disparatamos”? Somos a relação ou somos testemunhas da dinâmica da relação, observando e assumindo responsabilidade da coerência e transparência da relação que tenho comigo próprio em primeiro lugar? Por vezes há “mundos” psicoemocionais inconscientes formados por malas do passado e passaportes para o futuro, que influenciam a dinâmica dos relacionamentos que temos no presente. Muitas vezes queremos dizer sim e sai um não, muitas vezes queremos ir para a direita e vamos para a esquerda. Direcionamos a atenção tendencialmente para aquilo que está fora, na ânsia de tratar algo que está dentro. Assim vemos fora apenas o que acreditamos que queremos ver, não vemos fora o que ainda não aceitamos, conhecemos e compreendemos dentro.
Toda a forma de relacionamento é uma ponte de encontro entre dois pontos, duas entidades, dois descobridores. Nessa dinâmica, poderá haver atração ou repulsão, afeiçoamento ou aversão. Pode o afeiçoamento ser a ilusão de uma procura desencadeada pelo medo? Pode a aversão ser um dedo que toca numa ferida por sarar? Afinal, o que é o quê? Uma simples palavra tem importância relativa, aquela que cada “descobridor” acredite e lhe “agrafe”. O que dá poder a uma simples palavra? Acreditar! Acreditar tal como acreditas que és o nome pelo qual a tua pessoa é chamada. Como pode o desconhecido ser descrito? Como pode o incerto ser tomado como certo? O relacionamento pode também muito bem ser um ponto de crescimento e amadurecimento em direção a algo mais profundo, para lá do “descobridor”, a entidade que “procura”. Quem procura? E o que procura?
Aquele que se despe de si próprio, da imagem de si próprio, será aquele que se capacita a si mesmo para estar presente, sem ruído mental e emocional do passado ou do futuro. Simplesmente está. Presente. Aquele que está agarrado a algum tipo de ilusão de segurança, de identificação, carregará consigo todo um mundo de memórias, de emoções, de crenças, julgamentos e “agrafos”, de sentimentos e projeções que interferem nas pontes criadas com o outro. Que mexem e condicionam o presente. Relacionamento sim, mas será relacionamento entre quê? Entre quem? Quem ou o que se relaciona?
Relacionamento quando vivido de uma forma presente, é uma arte. Uma arte de comunhão e comunicação, interagindo com a Vida para lá dos olhos do outro. Relacionar pode ser uma oportunidade de clareza de ver e Ser Vida, e por outro lado pode ser um botão “repeat”, mais do mesmo, areia para os olhos do “descobridor” que se relaciona.
Relacionar é observar a forma como se interpreta a vida, se necessário for interpretá-la… Observar a forma como é sentida, se necessário for sentir… Observar a forma como é aceite, ou não aceite. Observar a forma como se mantem a luz do discernimento presente e no presente. Afinal mastigar, saborear e digerir a Vida não é a mesma coisa que engolir a vida ou torcer o nariz e virar a cara para o lado, à espera de outro prato. Mas tudo está bem pois, na verdade, aquele que come está já comido pela Vida. No fundo, não há aquele que come, nem tão pouco há o comido. Poderá alguém comer ninguém? Tudo se relaciona na mesma forma como se relaciona com ele próprio. Tudo caminha e se relaciona na medida do tempo certo e no lugar certo… no momento certo.
Seja qual for o relacionamento para o qual olhes na tua vida - afetivo, social, profissional - esse será sempre o relacionamento perfeito para te dar a observar e a sentir o ponto de liberdade consciente onde te encontras na forma como te relacionas contigo próprio de acordo com o teu grau de entendimento. E isso por si só é perfeito! Respira e Sê grato! Ter liberdade em qualquer tipo de relacionamento é não só escolher relacionar ou não com o outro, mas estar consciente da forma como me relaciono comigo próprio no relacionamento com o outro. Não se trata de egoísmo, mas de respeito e amor próprio.
Namastê ~ M.
www.raiosdomesmosol.blogspot.com
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