terça-feira, 8 de agosto de 2017

Permanece Oceano


terça-feira, 27 de setembro de 2016

Escuta...



Por favor, escuta...
É para ti em mim que falo.
A vida está a falar contigo.

A vida não te está a acontecer a ti,
A vida está a responder a ti.
Nela, o teu sentir é a ponte de comunicação.

Sei que ergueste muros de proteção em torno dessa capacidade sempre presente em ti.
Por vezes pode parecer desafiante sentir,
Pois sentir pode apresentar-se como abrires-te em ti,
Renderes-te ao que ainda não reconheces.
Sei que o fizeste na tentativa de fugir ao que acreditas que te gera sofrimento,
Porém o sofrimento que acreditas haver,
Permanece na forma de resistência a ti.
Resistência a partes por observar, por compreender, por integrar, por aceitar, por amar,
E assim transcenderes, expandires e cresceres.

Por isso, à noite, quando te preparas para cerrar os olhos,
Nesse espaço de íntimo silêncio,
Sentes essa "falta",
Essa ilusão de separação, essa procura.
A procura de ti fora de ti.
Essa falta de ti dentro de ti.

Lembra-te...
Para mudar a paisagem,
Basta mudar a forma como a sentes.
Desembacia o teu olhar...
Abre os olhos, e vê.

Entre o acreditar ser e o ser, existe um espaço...
Encontrar-nos-emos nesse espaço.
Lá, iniciaremos este fogo.
Ele queimará apenas aquilo que tu não és.

Om Shanti


M.


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domingo, 12 de junho de 2016

Sobre Atitude



Os teus sonhos estão à distância da tua atitude.
A tua atitude é baseada naquilo que te inspira.

O que te inspira deve vir ao teu encontro e vibrar com tal intensidade e paixão que sintas não haver outra alternativa senão a tua motivação dar o passo.

Se não sabes aquilo que te inspira, talvez te ajude a pergunta "O que queria eu, realmente, estar a fazer agora?".
E escuta-te...

Encontrarás algo, ainda que esse algo seja o que acreditas que te separa do teu sonho. E isso, por si só, é aquilo que o teu momento te pede para observares...

Namastê
M.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Inteiridade


Inteiridade é presença naquele que reconhece e ilumina partes individuais de si mesmo e as integra. É um processo no qual o consciente deve reconhecer e iluminar (tornar conhecido ou consciente) o subconsciente para que juntos possam  observar e integrar o inconsciente (desconhecido)
No oceano da consciência, tudo é expressão dela própria em diferentes formas e fases:

- O consciente é a forma manifesta da consciência (Shakti) na qual a mente se identifica com a matéria (Prakriti) e a vive (lila). A mente torna-se ego pessoal (Ahamkara), e a consciência torna-se o inteleto (Budhi).
- O subconsciente é o sem-forma manifesto da consciência (Shiva) em que o coração sente e a mente interpreta e distorce. Emoções, sentimentos, memórias, crenças, arquétipos, criança-interior e padrões ou tendências psicoemocionais e comportamentais (vasanas e samskaras). A mente torna-se impessoal (búdica) e a consciência torna-se o self (Atman).
- O inconsciente é o não manifesto (Brahman), o princípio divino, a fonte que une. A mente torna-se não mente (Moksha) e a Consciência (Purusha) torna-se presença Transpessoal, para além do pessoal e individual.

Inteiridade é o reconhecimento direto que a ilusão (maya) da torção é o infinito distorcido por aquilo que é manifesto nele próprio. Iluminar é o reconhecer direto da torção na forma.

Tudo é... Consciência Pura.
Jorge M. Porfírio


"Até que você faça o inconsciente consciente , o subconsciente vai continuar a conduzir a sua vida, e você vai chamá-lo de destino." - Carl Jung


"Não há despertar de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo para evitar enfrentar a sua própria alma. Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão."

'A Prática da Psicoterapia' - Carl Jung
Namastê

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domingo, 12 de julho de 2015

O Equilíbrio

Na vida há momentos em que somos levados a prados floridos e verdejantes, outros em que damos por nós em vales e em becos sem-saída. Assim é a vida, e querer fugir disso é mantermos enclausurada uma parte importante e vital de nós próprios. Nestes caminhos somos convidados a observar e agir perante o que a experiência dá a sentir. Somos convidados a observar a forma e grau de interesse e apego com que nos deixamos identificar por uma das partes e ao mesmo tempo criando aversão e resistência à outra. Persistiremos assim no não reconhecimento de partes de nós próprios que fazem de nós seres humanos sensíveis, emotivos, racionais e conscientes. Por muito que evitemos olhar para essas partes, enquanto não forem resgatadas do inconsciente e reconhecidas no consciente e integradas, esse não reconhecimento e resistência manifesta-se no exterior através da forma como sentimos atração ou aversão por ele.


Por vezes procuramos pelo branco, quando o que precisamos é o preto. Por vezes encontramos o preto e mais tarde torna-se branco. Somos constante mudança, e a vida é mudança. Por vezes optamos pela reação desde a defesa daquilo que acreditamos ser o seguro, o conhecido e confortável para a nossa pessoa. Tendo integrado partes do inconsciente, responderemos perante o desconhecido com uma atitude de neutralidade, aceitação, fluidez, reconhecimento e gratidão. Por um lado, uma ação brota desde a mente/ego que tende a querer controlar e proteger uma parte inconsciente do passado; a outra brota como resposta desde a inteligência cardíaca sempre presente do e no coração, através de um impulso oriundo desde o profundo inerente do indivíduo, para lá e apesar dos seus filtros mentais.

Uma vez que estas aparentes distintas formas de lidar com a experiência sejam tornadas conscientes, convém agora estar atento a quando se tende a “querer” manter ou agarrar o equilíbrio. Essa atitude será espelho da tentativa da mente de querer controlar algo, querer manter o equilíbrio. Reconhecido isto, o equilíbrio não se ganha nem se adquire, antes se perde dissipando-se nevoeiro do inconsciente que nos levava a acreditar e a identificar com a dependência do “querer” e do conceito, do alimento para a mente. Assim, para lá do conceito, o equilíbrio aparece, tal como o Sol que sempre lá esteve atrás das nuvens que o encobriam.

Tal equilíbrio desponta desde uma vulnerabilidade consciente que aprende a contornar e a reconhecer-se a si mesma ao longo do rio da vida e em tudo aquilo que o mesmo possa conter… Aceitando pontes, flores ou rochas no rio contidos, e assim deixá-las para trás, libertando-as não a elas mas à identificação que se tinha para com elas. Contornando-as, sem as combater, julgar ou rejeitar. Ser vulnerável é assim coragem de Ser a essência essencial para si mesmo e permitir que essa fragrância seja emanada ao longo do rio, preservando e honrando a presença profunda e integral. Daí advém a sua força, amorosa e integrativa. Ser vulnerável é assim não sinal de fraqueza mas de força sustentada.

Eventualmente, chegará o momento de libertar também o conceito de equilíbrio, o conceito, a mente dual, para que a essência do profundo se expresse desde o centro e se manifeste através das mãos, a origem da ação, manifestação e co-criação consciente. Naturalmente essa ação será reflexo de um equilíbrio que não depende nem do exterior nem tão pouco da forma como a mente o interprete, mas sim do estado natural que vem desde o mais profundo, outrora visto e entendido como separado, mas agora reunido pelas olhos, pés e mãos conscientes daquele que agora observa,  reconhece, respira, integra, caminha e vive o caminho do meio.

... Caminha, viajante.

Namastê,

Jorge Miguel Porfírio
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quinta-feira, 9 de julho de 2015

Sombra Amiga



Todo o ser humano é um ser vivo na vida. Para ser vivo na vida, há que reconhecer, aceitar e integrar o que define esse intervalo “vida”, o começo e o fim. A dualidade na condição da existência humana.

A sombra existe sempre que existe uma forma. No esfera do comportamento humano, sombras são aspetos de nós mesmos que fazem sentir contração, limitação ou dependência. Assumem muitas vezes comportamentos de defesa, resistência, medo, insegurança, controlo, desde processos psicoemocionais identificados a um passado e projectados para um futuro. São aspectos de nós próprios à espera de serem reconhecidos, aceites, observados, integrados e assim tornados conscientes pelo próprio. O trabalho com a sombra, pressupõe um reconhecimento de que, para haver sombra, tem de haver galhos e tronco. Terá de existir aquilo que se acredita ver e ser, ou seja, o conhecido. Para haver galhos e tronco, terá de haver raízes que suportem e nutram essas partes. O facto de não serem visíveis, não implica a sua não existência.

Tendemos a focar apenas os galhos, perseguindo frutos, descurando que, dependendo da qualidade da raíz, assim será a qualidade dos frutos que os galhos suportam. As sombras são assim resultado do relacionamento que nutrimos connosco próprios que por sua vez se relaciona com o outro graças à dinâmica da interação humana. Assim a vida funciona como um espelho onde vemos refletida essa parte de nós. Sombras são pérolas contidas no invólucro dual e membrana da esfera pessoal. Sombras são grandes professores na arte de reaprender a ser.

Haja Amor desde as raízes para que as sombras possam ser iluminadas e integradas. Sejamos a visão cristalina da necessidade da humildade do reconhecimento de todas as partes de nós. Essa é a responsabilidade matura e consciente de individuação e liberdade consciente. Esse é O passo. Um passo a ser dado desde dentro e para dentro, desde as entranhas da árvore individualizada que cada um é nesta floresta que somos, qual seiva vital que percorre o ser e impulsiona a força primordial da vida. Estamos juntos neste caminho.

A via Transpessoal facilita esse caminhar e o reconhecimento consciente e direto do resgate de pérolas de nós próprios.

Fica aqui.
Nutre as tuas raízes...
Celebra o teu tronco...
Abraça os teus galhos...
Partilha os teus frutos...
Integra as tuas sombras...
Escancara as portas do teu coração,
E nele respira um "Obrigado!".
... E fica Aqui.


Namastê,
M.
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quarta-feira, 8 de julho de 2015

O Imprevisto Acontece



As coisas, imprevistos e acontecimentos na vida, por si só, são neutros. O que lhes dá importância é o grau de identificação, apego e dependência que consciente ou inconscientemente nutrimos pela emoção que nos dão a sentir. Há emoções que fazem sentir contração cardíaca, outras expansão cardíaca. Aquilo que estas palavras representam para ti e ressoam em ti não será o mesmo para outra pessoa. Cada pessoa é um mundo, cada uma um caminho, um momento individual fluindo no momento do todo. E, assim, o Sagrado nos toca a todos... para que observemos e reconheçamos diretamente a ilusão daquilo que acreditamos ser para sermos aquilo que nunca deixámos de ser. Serena mas focada atenção no imprevisto.

Namastê,
M.
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sexta-feira, 26 de junho de 2015

O Extra no Ordinário


Num mundo ordinário no qual a pessoa tende a viver a vida moldada pelo exterior,
Faz falta o extraordinário interior do ser,
Desde onde seja vida e abraçada a pessoa.
Seja o extra. Viva a diferença.

Namastê
M.
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sábado, 13 de junho de 2015

Eu, as emoções e eu


Tu, mente, não sigas a tua intuição nem mente de alguém.
Não ainda.
Ainda não sois amigas.
Observa-a antes com intenção e atenção atenta,
pois é tua intuição e não de nenhuma outra mente.
Ainda que surja vestida por uma emoção de repulsão ou medo,
atração ou desejo,
respira e permanece nessa atenção interna, focada.
Serena e desapegada,
persegue a emoção com atenção.
Caça a emoção, não te deixes acreditar engolir por ela.
Corre em direção dela, não para onde ela te projeta.
No final da mente, corre com ela final e realmente.
E, juntas afinal, assim se transformam na melhor companhia…
A emoção e tu, tu e a emoção.
Procurar ou evitar emoções é para ti agora igual,
pois conquistaste o agora da tua companhia, a melhor.
E assim és.
Presente no presente.

Jorge M. Porfírio
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segunda-feira, 8 de junho de 2015

Liberdade


Alguém quer ter liberdade e ninguém quer ser liberdade.
A pessoa quer liberdade para o impulso mas franze o olho à consequência.
Quando se acredita que se conquistou a liberdade e que agora se “tem” liberdade no bolso,
Acredita-se também que “tem” que se lutar por a manter,
Pois a qualquer momento, tal como a liberdade veio a liberdade poderá ir.

A liberdade não depende de nenhuma cousa, mas muita causa alimenta-se dela.
Há liberdade que expande e há liberdade que limita.
Há liberdade da mente e liberdade de mente.

Observa e reconhece que o efeito é também a causa,
Desfralda as velas do barco da liberdade que apenas tu poderás ser.
A liberdade não está em nenhum porto,
Liberdade é onde quer que ninguém seja.
Acaba onde começou.
Tu és.

M.
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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Nas Asas do Ser



Oh mente,

Descansa as tuas asas doridas pelo que procuras
Maceradas pelo fogo da procura do que para fora projectas.
Repousa o teu corpo tenso e cansado
Aterra e aninha-te no ninho do Coração
Derrete aqui
Todo o fogo glaciar e ventoso
Na água amena e espacial da qual és projeção.
Concede-te tempo num tempo de eclosão.
Eclode e reconhece no Coração aquilo que nunca pudeste deixar de Ser.
Encontra-te no abandono da tua procura
E funde-te naquilo que és.
Não pelo querer das tuas asas mas pelo ser do qual és manifestação.

Oh, mente…

Não há tempo para o sem tempo
Que contempla o tempo do teu voo sonhado.
Há tempo nos voos onde te colocas,
Algumas vezes sobre prados coloridos onde te perdes no deslumbramento
Outras tantas sob nuvens cinzentas onde te perdes no sofrimento.
O que contempla o teu voo é a origem da viagem que és.
O que observa o teu voo sente o espaço deslocado pelas tuas asas,
Sente a procura pelo teu encontro e sente o encontro da tua procura.
Não há um eu e um tu naquilo que somos.

Oh mente…

Eu sou sem ti mas tu não és sem mim.


Namastê,
Jorge M. Porfírio
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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Liberidade


Liberdade não é viver o acreditado,
mas ser aquilo que não precisa de ser acreditado.
Uma aprisiona o ser, a outra libera-o do acreditado.
Sempre será preciso alguém para haver liberdade,
ninguém é preciso para a ser.


Uma é separação na prisão, a outra é união na libertação.


Liberdade não é a procura,
Mas sempre e quando se dá a ela própria.

É sempre Idade de ser Liber.

Namastê
Jorge M. Porfírio
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terça-feira, 26 de maio de 2015

Despertar da Forma


Há duas formas de viver no presente:
temendo, evitando dor ou desejando, procurando prazer.
Ambas são memórias do passado reflectidas no presente,
Pré-ocupando o presente.
A vida é para lá da forma presente.

Haverá sempre uma forma a querer viver o presente
Enquanto não se tornar presente a ela própria.

Para ser na vida não há forma
Pois o Ser é sem forma.
Esse ser presente tu és
Antes e em qualquer forma.

Antes de ti,
Tu és presente.

Namastê
Jorge M. Porfírio
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segunda-feira, 25 de maio de 2015

Na Caverna de Platão

(imagem relacionada com a Alegoria da Caverna, de Platão)

Neste grande palco onde a Vida é,
Ninguém é melhor ator que alguém.


Namastê
Jorge M. Porfírio
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segunda-feira, 18 de maio de 2015

O Poder da Atenção

Uma das mais poderosas ferramentas que todo o ser humano dispõe ao longo da sua vida, é também uma das que mais passa despercebida. Paradoxalmente, é a partir dela que a vida se desenrola e através da qual demais ferramentas são procuradas e, ou não, encontradas. Falamos da Atenção. Às vezes o mais importante e óbvio é aquilo que mais tende a passar ao lado, tal a proximidade e a forma mecânica e inconsciente com que é utilizado. Imagine que segura na mão uma lanterna com o feixe de luz aceso e que procura algo no escuro. Consideremos a Atenção a lanterna... Atenção à lanterna.


Tudo aquilo que é procurado, apenas o é precisamente devido ao facto desse poder criador da realidade de cada um: isso mesmo, a Atenção. Direcionamos atenção a tudo e a todos. Tal como um leito de um rio é recipiente e ao mesmo tempo condutor de água, é através da atenção que energia de intenção é conduzida em direção a algo, em direção a um objetivo, a um efeito.
Quando os “efeitos” que a vida devolve não espelham a ideia que se tem de “felicidade“, ocorrem sensações e sentimentos de desconforto, de infelicidade. É oportuno nessas ocasiões analisar de uma forma mais abrangente e profunda aquilo que o momento dá a sentir. Por outras palavras, desde os efeitos, iluminar as causas.

Muitas vezes a atenção brota de um estado reativo, mecânico, emocional. Tende-se a colocar a atenção na procura, no que faz falta, naquilo que não se tem mas que gostaria de se ter, na ausência, na carência. Nesse contexto, a atenção nasce desde uma base de carência, falta de algo, projeção de responsabilidade, colocando "fora" a felicidade. Isto causa infelicidade e gera desejo. Transfere-se poder/atenção para o exterior ao invés de, com ele, iluminar, observar, respeitar, compreender, perdoar, aceitar, amar, integrar, expandir e nutrir o interior. Quando a atenção se redireciona para o centro de si mesma, encontram-se pérolas ao longo do caminho que somatizam a totalidade de um ser completo por ele próprio. Com essas pérolas um Colar de Gratidão é gerado, desenvolvendo naturalmente uma atitude de Gratidão para com a Vida.

É diferente viver o momento tendo como base a carência (medo/apego) ou vivê-lo tendo como base a Gratidão (amor/desapego). Os comprimentos de onda são diferentes, e a vida devolve não aquilo que se quer, mas a soma de tudo aquilo que antecede o “querer“. Visível e/ou invisível, consciente e/ou inconsciente, iluminado e/ou por iluminar. O simples facto de “querer” implica falta de algo, carência, incompletude, insegurança, medo. Desta forma vive-se assente numa plataforma, ainda que inconsciente, de medo e de luta na vida. E como é interpretado aquilo que a vida faz chegar? Precisamente como mais do mesmo: luta, resistência, pois foi precisamente desde esse ponto que a atenção foi colocada, limitando assim o canal pelo qual a vida circula. Daí ser dito que por vezes a vida dá o necessário para que uma revelação interior possa acontecer e não aquilo que é desejado.

Por outro lado, quando se vive desde um ponto de gratidão pelo momento que se vive, agradecendo e vibrando por aquilo que se tem e se vive ao invés de desejar aquilo que não se tem, a vibração interna muda, expande. Desde esse núcleo tão interior como intrínseco a cada um, todas as suas demais dimensões que brotam desde esse ponto são abarcadas, equilibradas e integradas. O campo de coerência vibracional individual é mais alargado, integrador e sincronizado e dessa forma ressoa com a vida. E a vida encarregar-se-á de devolver experiências no mesmo tipo vibracional de onda, tal como se de um eco se tratasse.

Você não é apenas uma estação de rádio e ouvinte. É energia em interação com energia. Energia em interação com ela própria, energia a reconhecer-se e a integrar-se consigo mesma. A energia não está apenas dentro de si como também fora de si. Para ela, dentro e fora não existe, pois são conceitos que apenas existem quando a atenção está identificada com a mente dual.

Entregue-se e renda-se a essa energia que já é. Banhe-se e respire nela. Irá, pela sua própria experiência, sentir mais clareza, mais espaço. Se não está contente com o eco que recebe da vida, talvez seja momento de colocar a sua atenção em si próprio, observando de uma forma imparcial, neutra, isenta de qualquer tipo de julgamento, iluminando aspectos que possam estar há já algum tempo a pedir a sua presença, a luz da sua lanterna/atenção.

A energia flui para aquilo que a sua atenção está a ser no momento. O exterior é sempre espelho do interior.

Namastê,
Jorge M. Porfírio
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sexta-feira, 15 de maio de 2015

Porque sofro?


Por detrás de todas as crenças, todas as emoções e sentimentos, de todo o passado, você é o que nunca deixou de ser. Abandone todas as imagens que tem acerca de si… Deixe tudo por uns instantes... O que fica? Você é pura Consciência. É aquilo que a conduziu, desde que nasceu, até este preciso momento. Este instante. O corpo entretanto cresceu, mas em si há algo profundo que se mantém, um tesouro que a acompanha ao longo do por vezes sinuoso caminho da vida. Algo se mantém, inalterável.

De alguma forma, o facto de a atenção ser colocada ao longo da vida no material, naquilo que está “fora”, no mundo dos fenómenos onde tudo e todos está de passagem, fez cristalizar a ilusão de ter que se “construir e agarrar uma vida”, criando uma identificação a uma imagem de separação e luta, de medo. A vida por si só é transitória. A cada estação do ano sucede outra que por sua vez antecede uma outra. A dor na vida é inevitável, tal como para haver dia tem que haver noite, para haver prazer tem que haver dor. É da fricção dos opostos que nasce a luz. A dor pode ser vivida como um convite de introspeção para o sentido último da vida em si. Porém, quando surge resistência à Vida e consequente não aceitação perante aquilo que ela dá a vivenciar como dor, surge resistência ao que acontece, à mudança, à renovação da vida, expondo o apego à segurança ilusória do passado. Gera-se assim o sofrimento que se instala e se mantém como um hóspede indesejado. E mantém-se não porque seja desejado, mas sim porque a pessoa acredita que é esse sofrimento. Há sofrimento porque há apego. Libertemo-nos do apego, e libertamo-nos daquilo que acreditamos que nos limita. Podemos acreditar que são os outros a causa dos nossos limites, felicidade ou infelicidade, quando no fundo somos nós próprios que nos limitamos, dividimos e condicionamos sempre que colocamos fora de nós próprios a causa do estado de ser individual, seja ele qual for.

Não é a dor que derruba, mas a forma como se aceita ou não a experiência da dor. Se houver resistência, tensão, surge o sofrimento. Que, por si apenas, é uma chamada de atenção para que, revertendo aquilo que a situação dá a sentir para o interior, se possa encontrar um ponto de equilíbrio, de abertura, de rendição da imagem do eu ilusório para um eu mais pleno, vendo para além da "pessoa". Na base, sofremos quando há uma profunda identificação da consciência com a crença “eu sou este corpo”. Nesse ponto a expressão da consciência encontra-se de certa forma limitada, apegada à crença dessa identificação e sujeita a toda a limitação e condicionantes que ela impõe, de forma mais ou menos consciente.

Reconheça e entenda que não é apenas um corpo a viver a vida… é Vida a ser e a respirar num corpo. Para alguns esta observação e reconhecimento é mais fácil ser aceite e integrada do que para outros, pois cada um é um mundo com estradas e formas de chegar ao mesmo destino diferentes, dependendo do seu grau de entendimento e maturação individual. O nível de resistência a esta “desconstrução”, reflete o grau de apego à matéria e o quão dependente cada um acredita que se encontra do exterior. Há a escolha. A ajuda por vezes conquista-se dentro, e depois aparece fora. Nos dias que correm há cada vez mais pessoas que despertam para essa escolha. Escute a sua escolha e observe à sua volta, não está sozinha neste processo. Respire.

Quando a mente se permite banhar no leito do Coração, ocorre a rendição da pessoa (personalidade, imagem construída desde a mente) à sua essência. Ao longo desse processo de “deixar de ser para ser” poderão fazer-se sentir “membranas” de resistência (mentais, emocionais). Com paciência e compreensão e uma genuína entrega e humildade, as mesmas membranas dissolvem-se uma por uma, integrando-se também elas em pura consciência. O buscador, aquele que caminha em direção a, passa através delas, integrando partes de si e, naturalmente, aproxima-se cada vez mais do seu ponto de origem. 

Nesse ponto também o "buscador" desaparece, pois chegou ao Agora, ao ponto de onde nunca saiu. 

Namastê
Jorge M. Porfírio
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quinta-feira, 14 de maio de 2015

Espelho, espelho meu...


Já lhe aconteceu viver uma situação num determinado momento do dia, e disse “Oh não…. Outra vez isto?”. A realidade percebida depende da forma como cada um se encontra recetivo e disponível a esse instante. Não é que a experiência seja igual à anterior. Está-se sim a repetir e a fazer sentir uma emoção do passado através de mecanismos de interpretação mental, que criam a ilusão de se estar a repetir a situação. E porquê? Porque a Vida é inteligente, e sabe que o aluno não foi capaz de retirar o sumo da experiência da situação do passado. E então, a forma repete-se uma e outra vez, até que finalmente o aluno “observa” o sumo e bebe a aprendizagem. “Ah! Era isto…”.

Numa das minhas últimas palestras falava-se deste tema. Uma participante mencionou que no simples facto de apontarmos o dedo indicador, ao mesmo tempo na mesma mão três outros dedos apontam para nós próprios, como se uma inteligência profunda dissesse: “Trás isso para dentro e observa em ti o que a situação te mostra”. Foi muito profundo e interessante. Poderá fazê-lo agora. Aponte para fora o dedo indicador e observe a forma como outros três dedos apontam para si ao mesmo tempo. Poderá eventualmente observar uma sensação do tipo “tremor de terra” a aflorar.

Quando nos vemos ao espelho e queremos alterar o que vemos, não esperamos que seja o reflexo a mudar, mas sim, devolvemos para nós próprios a tarefa de fazer algo nesse sentido. A realidade é um reflexo. Acredita-se ver fora o que é acreditado dentro. É mais confortável transferir responsabilidade de mudar algo para o exterior, apontando fora culpas e causas de efeitos que sentimos dentro. É mais conveniente para a preservação da imagem que temos de nós próprios, pois assim essa ideia de quem somos permanece “segura”, no seu pedestal, revestindo o papel de vítima. Porém, essa imagem é frágil na sua aparente solidez. Ao mínimo solavanco, se a vida toca num ponto crítico, faz estremecer toda a estrutura individual, dando origem a reações oriundas de um estado de ser dividido, compartimentado e estancado no seu interior. Lembre-se que sempre que reagimos estamos a “atacar” e o ataque pressupõe defesa. Observe que reação defensiva é efeito, emoção de medo a causa. Observe o movimento das emoções, a forma transitória como vêm e vão. Aprenda a não se agarrar a elas, a não se identificar com elas.

Aprendamos a estar presentes, a explorar o próprio interior, para que se possa observar onde e quando “reagimos”. Se em vez de reação houver espaço para resposta, não estaremos a viver o presente distorcendo-o com imagens guardadas do passado.

É tempo de se libertar do passado e viver plenamente o presente.
Porque você merece!

Namastê
M.
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quarta-feira, 13 de maio de 2015

Atemporal



“Já não era sem tempo”...
Já foi tempo.
Já era tempo.
Já, era tempo.
Já, é agora.
Agora é sem tempo.
Já, é sem tempo…
Já é sem tempo.
Já foste…
Já voltaste…

Já és.

Ninguém é sem tempo neste tempo.


Namastê
M.
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segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Céu e o Inferno do Samurai



« Existiu um samurai muito temido, arrogante e habilidoso no manejo da sua espada. Dizia-se que era invencível. Apesar de ser temido, este samurai trazia consigo um grande medo: em várias batalhas a sua vida esteve por um fio, e desde então passou a temer a morte. Preocupava-se seriamente com isso e perguntas como “céu e inferno existem?” passaram a atormentar a sua mente e durante a noite pesadelos com chamas infernais torturavam seu sono.

Um dia, antes de ir para uma nova batalha, o medo ressurgiu e ele decidiu que precisava saber urgentemente se o céu e o inferno existiam de fato, e onde se situavam.
Acreditava que se soubesse onde eles estavam, poderia evitar ir em direção ao inferno e seguir diretamente rumo ao céu. Pensou que um mestre zen lhe poderia dar essas respostas, e decidiu ir a um conhecido templo budista, no meio das montanhas.

Chegando lá, ele esmurrou o portão e aos berros exigiu a presença de Hakuin, um famoso mestre que residia no local. Calmamente, Hakuin ainda abria a porta quando o arrogante guerreiro esbravejou impaciente: 

- Quero saber se céu e inferno existem e onde eles estão! Tenho pressa, quero essa resposta AGORA!

Hakuin olhou-o de cima para baixo com um olhar de desprezo e respondeu:
- Ora, seu porco imundo, retire-se daqui!

O samurai ficou com os olhos vermelhos. O sangue fervilhava de fúria. Desembainhou rapidamente a espada e ameaçou desferir um golpe mortal contra o monge, que o interrompeu dizendo:
- Eis a porta do Inferno.

O samurai recuou, surpreendido, e já arrependido pela conduta arrogante, curvou-se sereno e humilde, e pediu perdão. Hakuin, antes de fechar a porta, disse:
- Agora, encontrou a porta do Céu. Se o céu e inferno não forem observados e sentidos dentro da sua mente, em que outro lugar então pensaria encontrá-los? »

(Conto Zen)



Aprender a cultivar, a desenvolver e a estabilizar um estado de presença testemunha, é essencial para que surja espaço. Apenas nesse espaço, vazio da imagem e identidade do "eu", escolhas conscientes poderão aflorar de forma natural, desidentificadas com estados transitórios emocionais e mentais. Liberdade para fazer algo não é a mesma coisa que assumir a responsabilidade da consequência da ação. Tal como uma porta tem duas faces, nem sempre se observa a outra, apesar de ambas as faces fazerem parte daquilo que é. Tal como, também, a mesma porta que num primeiro instante se pensa que abre para fora, poderá num instante de compreensão profunda, abrir para dentro. - A porta é a cada instante... és este instante.

Jorge Miguel Porfírio

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sexta-feira, 8 de maio de 2015

Sinais de Vida


Por vezes a vida coloca tantos sinais à frente que facilmente desconsideramos os sinais como sinais, passando-nos despercebidos. Por vezes ficamos até confusos e atordoados. Sinais são “chamadas” para que a atenção se recoloque num sítio/estado com mais espaço, mais amplo, recetivo a um espectro de cores mais alargado para que com ele se possa interagir com o mundo. O momento tendencialmente é dirigido pelo “complicómetro” a que chamamos mente, turvando a visão profunda, dificultando ver a profundidade do simples e integrá-la depois no momento seguinte.

A Vida fala através das coisas simples. Aliás, a vida sempre fala, mas dir-se-ia que nem sempre a escutamos parecendo até que estamos de costas voltadas para ela. Certamente que já reparou nas chamadas “coincidências”. Por exemplo, quando pensa em alguém e momentos depois esse alguém lhe telefona ou bate à porta.

Ao conseguirmos estar suficientemente presentes e disponíveis para realmente observar a mensagem nas entrelinhas que a vida nos faz chegar, dizemos “Estou aqui!”. Trata-se de observar a linha da aparente “coincidência” e aprofundá-la. Dessa forma iremos entendê-la como sincronicidade, onde se intui que a inteligência da Vida ressoa com a vida inteligente em todos nós e desde esse ponto tudo flui de forma harmoniosa como se um rio transparente de convergência, presença, evolução e equilíbrio se tratasse.

O poeta sufi Rumi, dizia: “Para mudar a paisagem basta mudar o que sentes”. Para um reconhecimento mais vivo da vida ter lugar para acontecer, convém que tenhamos a capacidade e , acima de tudo, a vontade genuína de primeiro “esvaziar” a mente, desejando a mudança. Tal como num copo cheio de água até ao limite não cabe nem mais uma gota de água, numa mente cheia também não há lugar para nada mais. Mudar o que se sente passa por convidar a uma mudança de paradigma interior. Tantas e tantas vezes a vida nos dá sinais que, repetindo certo tipo de padrões ou rotinas, iremos estar a remar contra a maré do livre fluir da vida e da paixão que nos anima e alimenta a alma. Quando o plano A não corre como seria desejável uma e outra vez, talvez seja a Vida a dizer: “Ei! Passa para o plano B!”. Afinal, o alfabeto tem tantas letras…



Fique aqui, no momento. Presente. E entretanto, se vir um sinal para atravessar na passadeira, escute-o. Afinal, a Vida fala consigo a todo o momento… simples mente.

Namastê,Jorge M. Porfírio
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