sexta-feira, 15 de maio de 2015

Porque sofro?


Por detrás de todas as crenças, todas as emoções e sentimentos, de todo o passado, você é o que nunca deixou de ser. Abandone todas as imagens que tem acerca de si… Deixe tudo por uns instantes... O que fica? Você é pura Consciência. É aquilo que a conduziu, desde que nasceu, até este preciso momento. Este instante. O corpo entretanto cresceu, mas em si há algo profundo que se mantém, um tesouro que a acompanha ao longo do por vezes sinuoso caminho da vida. Algo se mantém, inalterável.

De alguma forma, o facto de a atenção ser colocada ao longo da vida no material, naquilo que está “fora”, no mundo dos fenómenos onde tudo e todos está de passagem, fez cristalizar a ilusão de ter que se “construir e agarrar uma vida”, criando uma identificação a uma imagem de separação e luta, de medo. A vida por si só é transitória. A cada estação do ano sucede outra que por sua vez antecede uma outra. A dor na vida é inevitável, tal como para haver dia tem que haver noite, para haver prazer tem que haver dor. É da fricção dos opostos que nasce a luz. A dor pode ser vivida como um convite de introspeção para o sentido último da vida em si. Porém, quando surge resistência à Vida e consequente não aceitação perante aquilo que ela dá a vivenciar como dor, surge resistência ao que acontece, à mudança, à renovação da vida, expondo o apego à segurança ilusória do passado. Gera-se assim o sofrimento que se instala e se mantém como um hóspede indesejado. E mantém-se não porque seja desejado, mas sim porque a pessoa acredita que é esse sofrimento. Há sofrimento porque há apego. Libertemo-nos do apego, e libertamo-nos daquilo que acreditamos que nos limita. Podemos acreditar que são os outros a causa dos nossos limites, felicidade ou infelicidade, quando no fundo somos nós próprios que nos limitamos, dividimos e condicionamos sempre que colocamos fora de nós próprios a causa do estado de ser individual, seja ele qual for.

Não é a dor que derruba, mas a forma como se aceita ou não a experiência da dor. Se houver resistência, tensão, surge o sofrimento. Que, por si apenas, é uma chamada de atenção para que, revertendo aquilo que a situação dá a sentir para o interior, se possa encontrar um ponto de equilíbrio, de abertura, de rendição da imagem do eu ilusório para um eu mais pleno, vendo para além da "pessoa". Na base, sofremos quando há uma profunda identificação da consciência com a crença “eu sou este corpo”. Nesse ponto a expressão da consciência encontra-se de certa forma limitada, apegada à crença dessa identificação e sujeita a toda a limitação e condicionantes que ela impõe, de forma mais ou menos consciente.

Reconheça e entenda que não é apenas um corpo a viver a vida… é Vida a ser e a respirar num corpo. Para alguns esta observação e reconhecimento é mais fácil ser aceite e integrada do que para outros, pois cada um é um mundo com estradas e formas de chegar ao mesmo destino diferentes, dependendo do seu grau de entendimento e maturação individual. O nível de resistência a esta “desconstrução”, reflete o grau de apego à matéria e o quão dependente cada um acredita que se encontra do exterior. Há a escolha. A ajuda por vezes conquista-se dentro, e depois aparece fora. Nos dias que correm há cada vez mais pessoas que despertam para essa escolha. Escute a sua escolha e observe à sua volta, não está sozinha neste processo. Respire.

Quando a mente se permite banhar no leito do Coração, ocorre a rendição da pessoa (personalidade, imagem construída desde a mente) à sua essência. Ao longo desse processo de “deixar de ser para ser” poderão fazer-se sentir “membranas” de resistência (mentais, emocionais). Com paciência e compreensão e uma genuína entrega e humildade, as mesmas membranas dissolvem-se uma por uma, integrando-se também elas em pura consciência. O buscador, aquele que caminha em direção a, passa através delas, integrando partes de si e, naturalmente, aproxima-se cada vez mais do seu ponto de origem. 

Nesse ponto também o "buscador" desaparece, pois chegou ao Agora, ao ponto de onde nunca saiu. 

Namastê
Jorge M. Porfírio
www.raiosdomesmosol.blogspot.com

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